quarta-feira, 26 de setembro de 2007

100 Horas de Poesia
































O sarau 100 Horas de Poesia aconteceu no Clube da Imprensa em Brasília, de 19 a 23 de setembro de 2007, com a participação de poetas da cidade. Várias bandas se apresentaram. Um cinema foi montado com exibição de curtas sobre temas variados, além da exposição e venda de artesanato.








A jornalista, poeta e escritora, Cristina Victor, leu poesias de seu livro Negra Pele Sagrado Coração na noite de domingo, último dia do sarau.






Perfil
Cristina Victor é jornalista e vive em Brasília há 22 anos. Escreve desde os 17 e, além de poesias, tem contos e romances ainda engavetados, mas que pretende editá-los futuramente. O livro de poesias Negra pele Sagrado Coração é sua primeira publicação, na qual reuniu textos escritos desde a adolescência até os dias de hoje.
Para a escritora, o lançamento de seu primeiro livro se deve ao fato de “as poesias estarem enlouquecendo, pulando das gavetas, desarrumando a casa e desatinando a cabeça, daí a necessidade de libertá-las e isso só se consegue reunindo-as em um livro, deixando-as livres para entrar em outras cabeças.”
Outro motivo para a produção do livro foi o de compartilhar com os amigos seus sentimentos, conceitos e sensações absorvidas na vivência do amor sensual e suas mazelas. No evento 100 Horas de Poesia, a autora leu, entre outros, o poema Um novo porto, que pode ser conferido a seguir.


Um novo porto


É naquele porto onde aportam todos e tudo.
E os também. É naquele porto que os pés tocam
e miram os olhos de costas para o mar. 
É naquele porto que, deixando as conveniências dos anos, 
decidem caminhar para o espectro do futuro.



Aportam velhos, jovens e crianças.
Mulheres aportam.
Apostam que podem.
Que dá para tentar vencer, ficar.


Aportam os pés fincados com medo de esbarrar
nos tropeções reservados para eles.
Os pés não querem caminhar para fora do porto.
E a mala na mão para dar impulso.
Mira com olhos da alma o medo 
além desse porto.



Ah, porto dos portos.

Postos nus de esperanças.
Vestidos de passados
agora atrás dos calcanhares.
Mira lembranças.
Vontade de voltar.
Arrependimento logo após.
Só para não voltar, fica.

E esses pés que não andam

Porto que já teve outros pés temerosos.
Aportados, fincados, opostos
ao mar que traz atrás.
É nesse porto que começa a vida
da metade que viveu,
mais um pouco ainda.
Que deixou o outro de frente, agora lá.
É nesse porto de imigrante
que a coragem falta
Mundo estranho.

Mundo de tantos portos.
Sempre o começo da metade.
Da desistência, da insistência, da resistência.
O recomeço de tudo antes desistido.
Outra vez, tudo de novo.
Da metade.

Sabe que não volta.
Fica.
Anda para não passar a vida nesse porto.
Rápido.
Está na metade dela.
Recomece antes que perca o pouco que ainda resta.

Caminhem pés
porque minha mão arde com o peso das
minhas lembranças guardadas,
dobradas, passadas,
arrumadas lado a lado na mala.

E pesa do lado esquerdo da mala.
O lado esquerdo pesa imensamente o novo
o velho, o porto daqui e de lá.
Como relógio que recomeça as horas
para viver o dia, noite, dia, noite, dia.

Pára
É animado com corda, linhas, rotas,
emoções desesperadas.
Coração inchando, pulsando, apertado no porto.


Olhe, velho porto.
Sou imigrante nesse porto.
Do outro saído.
Sou imigrante nesse porto.
Recomeçando tudo da metade
de um outro começar.
Já sou velha nesses portos.
Estou nesse porto como em outros portos.
Ainda estou lá como aqui.
Estou em todos os portos postos no mar.


Sou imigrante porto, me aceite.
Ajude meus pés a caminharem nas tábuas
deste cimento, agora, há muito tempo tábuas.
Deixe-me passar.
Descobrir o que há à frente desse porto.
Deixe-me começar, mesmo que da metade
porque no fim não há começo e
ainda resta muita vida em mim além desse porto.





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Uma nova boa amizade



A poeta Myria do Egito confraternizou-se com a colega Cristina Victor, que conheceu no sarau. Depois, recitou um de seus poemas intitulado Poetas.

POETAS

Não nasci poeta não
A poesia que me invade
É uma forma de evasão

A vida que me ensinou
A rimar dor, com amor,
Felicidade e saudade...

Quando me chamam poeta
Rio comigo, quieta,
Pensando
No mundo agora
Poetas mil haveria
Se cada um que hoje chora
Fosse chorar em poesia

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Uma nova experiência


Márcia Costa de Andrade é uma tecnóloga de 32 anos, que adora a vida e ser feliz. Recitou poesias pela primeira vez no evento 100 horas de poesias no Clube da Imprensa e se apaixonou pela idéia. Conheceu muitas pessoas interessantes e com certeza estará nas próximas edições.


"Agradeço a Cristina Victor pela oportunidade oferecida para ler duas poesias da querida autora", O seu presente e Coração ferido na página vejamaisnegritudepoetica.
As fotos desta edição são de Márcia Costa.
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